Basta um dia ruim para reduzir o mais são dos homens em um lunático
Escrito em 1988 por Alan Moore, Batman a Piada mortal foi uma HQ tão impactante e inovadora que vem sendo reeditada desde então. Ganhou o prémio Eisner para ‘Melhor Álbum Gráfico’ em 1989 e apareceu na lista dos mais vendidos do New York Times em Maio de 2009. A história em si não é tão diferente das outras. O Coringa escapa do asilo Arkham e Batman vai atrás dele em busca de justiça. O que a destaca das demais histórias do Homem Morcego, porém, são as imagens impactantes e o quão profundo o autor nos coloca na psicologia do vilão.
A visão de mundo do Coringa é desencadeada por um evento que acaba o transformando em alguém que vê a vida como algo absurdo, sem sentido. Para ele, a loucura é o meio de escapar desta falta de sentido e de certa forma, da falta de justiça na qual o mundo naturalmente é regido. Um dos diferenciais desta história, é que o vilão não está apenas tentando cometer algum crime ou algo do tipo, sua verdadeira força motriz é tentar deixar alguém considerado normal e justo, louco. “Assim, quando você estiver dentro de um desagradável trem de recordações, seguindo para lugares do seu passado onde o risco é insuportável…lembre-se da loucura. A loucura é a saída de emergências.” O próprio meio que o Coringa usa para atingir sua meta pode ser considerada uma metáfora de como ele enxerga a vida: um circo cheio de memórias insuportáveis que não podem ser compreendidas.
Alan Moore é conhecido por utilizar muito simbolismo em suas obras e aqui não é diferente. Vemos o Coringa operando em um circo, uma metáfora para o que ele acha da vida. Já o local em que ele leva a pessoa que quer enlouquecer é um túnel repleto de memórias reprimidas, uma parte inconsciente da mente que traz desconforto à pessoa envolvida por tratar de coisas que este não quer aceitar. No final há um diálogo extremamente enigmático entre ambos (Coringa e Batman), e percebemos que o herói da história também possui um tom de loucura, porém opera para outro lado. Talvez a diferença entre os dois é que o Batman não se fechou para suas memórias, por mais que elas o machuquem ao serem recordadas. Provavelmente esta seja uma das únicas histórias em que vemos uma certa compaixão que um tem pelo outro.
Tanto o Coringa quanto o Homem Morcego lutam pela justiça de certa forma, porém um quer mostrar o quanto esta não existe mais na sociedade através de uma insana ironia enquanto o outro tenta ser a fagulha que despertará nos outros o senso de justiça e força de vontade. É por estes dois serem parecidos e ao mesmo tempo diferentes que torna seus confrontos sempre extremamente interessantes e repletos de questionamentos filosóficos.
Título: Batman: A Piada MortalAutor: Alan Moore Ilustrador: Brian Bolland, John HigginsEditora: PaniniAno: 2017Número de páginas: 82